Na fase pré-pandemia as consultas online de psicologia e psicoterapia já existiam, mas numa percentagem bastante menor.
Estas eram utilizadas sobretudo por dois grupos de pessoas: pelos expatriados e pelos nómadas digitais. No primeiro grupo, tendo em conta a preferência do uso da língua materna no processo psicoterapêutico, já era comum os portugueses que estavam a residir no estrangeiro recorrerem às consultas de psicologia e de psicoterapia à distância, ainda para mais tendo em conta os desafios do expatriamento. De igual modo, os nómadas digitais que vinham a crescer como estilo de vida e alternativa profissional, já usavam o digital de forma generalizada, o que incluía as consultas online.
Contudo, antes da Covid-19 as consultas presenciais eram largamente dominantes. A pandemia, na área da saúde mental, permitiu uma verdadeira “catarse” do digital. Tudo mudou. Se no início o digital surgiu por necessidade e única opção de ter uma consulta de psicologia ou de psicoterapia, com o tempo foi-se instalando como hábito e rotina, e passou a fazer parte da nova normalidade. A perceção desfavorável que existia, apesar da investigação na área da psicologia até já apontar para vantagens da consulta online, mudou com a experiência adquirida. As pessoas na sua generalidade puderam experimentar o uso do digital para acesso a uma série de serviços e o que era estranho, passou a ser um hábito positivo. Por outro lado, os profissionais massificaram o trabalho online e experimentaram várias modalidades e formatos de trabalhar à distância. Muitos psicólogos continuaram a ir para o consultório, mas agora para dar consultas online, conseguindo conciliar espaços e tempos. Atualmente, com o fim das medidas da pandemia, o digital veio para ficar na área da saúde mental.
A psicologia e a psicoterapia continuam a realizar-se através do online de forma muito significativa, senão maioritária em muitas situações (sobretudo com os pacientes adultos e adolescentes). A opção do online de escolher o psicólogo sem ser pela proximidade geográfica, mas através de
critérios como a empatia, como é o utilizado no Psicologo.pt, permitiu
uma mais-valia na escolha e nos resultados de um processo onde a relação é essencial. Outras variáveis como a otimização do tempo, o foco no processo terapêutico ou a opção de se sentir mais seguro no online, passaram a fazer parte da escolha de quem procura um psicólogo. Além disso, também se desenvolveram modelos mistos, ou seja, processos terapêuticos onde por vezes as consultas se realizam presencialmente, em momento onde a aliança ou a regulação emocional podem ser mais relevantes, ou em fases mais profundas de trabalho de traumas, e noutras vezes as sessões são online, com o pragmatismo e o conforto também interno desta modalidade.
Por tudo isto, convictamente o online veio, felizmente, para ficar na área da
saúde psicológica. Afinal, no mundo interno há muito espaço para o presencial e para o digital.
HUGO SANTOS
Diretor Clínico do Psicologo.pt
O Jornal Económico | Especial Saúde e Tecnologia | 21 outubro 2022
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